A autenticidade pode ser uma das mais valiosas moedas em circulação.
Os “millenials” a buscam nas redes sociais, feito políticos em campanha.
Mas para viver uma boa vida — ou ganhar uma eleição — provavelmente o
melhor é não ser quem você realmente é.
“Estamos na Era da Autenticidade, na qual ‘seja você mesmo’ é o
conselho definidor para a vida, o amor e a carreira”, escreveu Adam
Grant, professor da Universidade da Pensilvânia, no “New York Times”.
“Autenticidade significa eliminar a distância entre o que você acredita
firmemente por dentro e que você revela ao mundo exterior.”
Mas ele aconselha não fazer isso.
Apesar de todas as vozes que encorajam as pessoas a “viverem uma vida
autêntica, se casarem com parceiros autênticos, trabalharem para um
chefe autêntico, votarem num presidente autêntico”, escreveu ele, ser
verdadeiro geralmente é um erro.
“Todos nós temos pensamentos e sentimentos que acreditamos serem
fundamentais para nossas vidas, mas que é melhor que não sejam ditos.”
Segundo ele, a sinceridade, em vez da autenticidade, é um objetivo
melhor, porque as pessoas só se importam realmente “que você seja
coerente com o que sai da sua boca”.
Donald Trump foi autêntico ao comer tacos para comemorar o 5 de maio,
data cívica da comunidade mexicana nos EUA? E o frasco de molho picante
que Hillary Clinton diz manter na bolsa, como Beyoncé?
“Estamos tão acostumados a ver os políticos afinando cuidadosamente
suas personalidades ‘autênticas’ que qualquer coisa que pareça permitir
uma identificação provavelmente é identificável demais para ser
verdade”, escreveu Jennifer Szalai no “NYT”.
Ela salientou que a autenticidade está sujeita ao contexto da época em que vivemos.
A autenticidade foi reimaginada como uma coisa bonita que pode ser
encontrada com um pouco de busca interior profunda. Szalai escreveu que a
autenticidade se tornou desejável, “e desejável significa
comercializável, especialmente numa sociedade tão implacavelmente
comercial como a nossa”.
O atual mercado da autenticidade alimenta as vendas de livros de
autoajuda e de praticamente qualquer coisa que seja descrita como
“personalizada”.
Nenhuma palavra serve tanto como um alerta de que o produto à venda
não vale o que custa, a não ser que seja um terno de alfaiataria.
“É parte do golpe da autenticidade”, disse ao “NYT” Paul Riccio, que
dirigiu um vídeo satírico sobre a água “personalizada”. “Chamar algo de
personalizado automaticamente permite que você aumente seu preço em US$
50 (R$ 160).”
O mesmo golpe também beneficia vários livros de autoajuda. Textos
antigos voltam a ganhar popularidade porque muita gente está sedenta por
conhecimento. Mas essas traduções frequentemente são mal apropriadas e
mal interpretadas.
“Às vezes as pessoas veem o taoísmo como uma forma de ‘ajudar a se
encontrar e a viver bem no mundo’”, disse Michael Puett, professor de
Harvard, ao “NYT”.
“Mas essas ideias não dizem respeito a olhar para dentro e se
encontrar. Dizem respeito a superar a si próprio. São, de certa forma, a
antiautoajuda.”
A verdade nem sempre é um lugar bonito. Puett alertou que, nessa
busca, muita gente acaba encontrando algo a ser superado ao invés de
abraçado: um tumulto interno decorrente de hábitos ruins. Para a maioria
de nós, seri melhor alterar o nosso comportamento e nos concentrar mais
em como interagimos com os outros.
Grant concorda que deveríamos nos preocupar mais em como nos apresentamos e como aspiramos a ser o que dizemos ser.
“Ao invés de mudar de dentro para fora, você traz o exterior para
dentro”, escreveu ele, salientando: “Ninguém quer ver o seu verdadeiro
eu”.